Artigo originalmente públicado no jornal Expresso
Mais de 100 pessoas assinaram um manifesto para criar um serviço público de energias renováveis. Dada a “enorme urgência e relevância para a luta climática e social atuais”, mais de uma centena de ativistas, investigadores e sindicalistas defende “um sistema de energias renováveis de propriedade pública”.
O manifesto, a que o Expresso teve acesso, considera que “o investimento no sector energético tem de estar alinhado com objetivos e políticas que assegurem uma transição energética justa e com os prazos ditados pela ciência climática, assim como políticas que garantam o acesso universal a energias renováveis e o pleno emprego com direitos”.
Como tal, os subscritores do documento lembram que os preços da energia têm disparado, ao mesmo tempo que “a indústria fóssil e energética regista lucros recorde e anuncia novos investimentos em combustíveis fósseis”. A EDP, Iberdrola, Shell e Galp são algumas das empresas que fecharam o ano passado com lucros históricos.
Paralelamente, há “um investimento insuficiente e desajustado em energias renováveis”, o que, por sua vez, é “incompatível com os interesses públicos e a necessidade de travar a crise climática”, indica o manifesto escrito pelo grupo de trabalho “Energia Pública Renovável” da campanha “Empregos para o Clima”.
O Governo português prevê que sejam investidos cerca de 60 mil milhões de euros em energias renováveis até 2030, o que representa 25% do PIB nacional, como revelou o ministro do Ambiente e Ação Climática, em março. “Vamos querer concretizar os projetos ao máximo”, afirmou Duarte Cordeiro na altura.
TRAVAR CRISE CLIMÁTICA E ENFRENTAR PROBLEMAS SOCIAIS
Entre os subscritores do manifesto estão ativistas pelo clima, investigadores e académicos, trabalhadores e dirigentes de sindicatos de diferentes sectores, bem como membros do Conselho Nacional da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP).
Todos sustentam que o “acesso seguro e universal a energias renováveis apenas pode ser garantido através de um serviço público movido pelos interesses comuns, que ofereça empregos de qualidade a todos os que trabalham no sector”.
Como resumem os diferentes subscritores, este serviço será essencial, por um lado, para travar a crise climática e, por outro, para enfrentar problemas de natureza social, como a pobreza e a desigualdade.
Este manifesto antecipa o lançamento de um relatório que está a ser produzido pelo mesmo grupo de trabalho, que vai explorar e concretizar com maior detalhe a proposta de criação de um serviço público de energias renováveis.