Avançar para o conteúdo

Glossário

Crise Climática

Nos últimos 200 anos, as atividades humanas têm levado ao aumento da concentração de gases com efeito de estufa (GEE), como o CO2 (dióxido de carbono), CH4 (metano) e o N2O (óxido nitroso) na atmosfera. Uma parte substancial destas emissões deve-se à queima de combustíveis fósseis, como o carvão, petróleo e gás natural. Os GEE podem persistir na atmosfera por muitas décadas, causando o aquecimento global antropogénico, que tem grandes impactos nos ecossistemas naturais e humanos: ondas de calor, recordes de temperatura, secas cada vez mais graves e frequentes, incêndios descontrolados, cheias e tempestades, acidificação dos oceanos, perda de biodiversidade, escassez de água e comida, falhas de infraestruturas, migração climática e conflitos sociais. Isto é já a realidade – vivemos em crise climática.

Sabemos que há uma probabilidade significativa de que múltiplos “pontos de viragem” (tipping points) sejam ultrapassados se as temperaturas globais excederem 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, provocando alterações em grande escala, potencialmente irreversíveis, em determinadas parte do sistema terrestre. E por isso é tão urgente evitar ultrapassar os 1.5ºC de aquecimento, de forma a evitar os piores cenários da crise climática. Para tal, os cientistas dizem-nos que devemos cortar pelo menos 50% das emissões globais de gases com efeito de estufa.

Justiça Climática

Lançado na Cimeira do Clima em Bali, em 2007, pelos movimentos sociais e pelas organizações do Sul Global, a Justiça Climática contesta o discurso tecnocrata e a abordagem apolítica da crise climática. A Justiça Climática baseia-se nas injustiças estruturais do capitalismo e do legado colonialista, enfatizando a necessidade de mudança sistémica em vez do foco na abordagem individualista.

Democracia Energética

Democracia Energética é um conceito que é definido em três pilares, nomeadamente, garantir um sector energético: (1) baseado na ciência climática (que nos diz que temos de reduzir as emissões globais em pelo menos 50% até 2030), (2) de propriedade pública, e (3) gerido democraticamente. Isto significa um sistema energético baseado em fontes de energia limpas e sustentáveis, que assegure as necessidades energéticas das populações e comunidades e ao mesmo tempo permite travar a crise climática.

Transição Justa

De acordo com a Confederação Sindical Internacional (ITUC), uma Transição Justa deve:

  • respeitar a contribuição dos trabalhadores das indústrias dos combustíveis fósseis pela prosperidade de hoje, e, portanto, garantir-lhes apoio ao rendimento, formação profissional, novos empregos e pensões asseguradas para os trabalhadores mais velhos;
  • reconhecer que o investimento na regeneração das comunidades será essencial para atingir a esperança e confiança das regiões afetadas pela transiçãoenergética, transformação industrial ou desastres;
  • garantir investimento em empregos decentes na mitigação e adaptação às alterações climáticas; e
  • basear-se no diálogo social entre todas as partes relevantes, na negociação coletiva com os trabalhadores e os seus sindicatos, e na monitorização dos acordos públicos e vinculativos.

Com o enquadramento da Transição Justa, os sindicatos juntaram-se à luta pela Justiça Climática com o intuito de reforçar a proteção da classe trabalhadora nas políticas climáticas. O termo Transição Justa ganhou visibilidade em 2015 quando entrou no preâmbulo do Acordo de Paris.

Neutralidade Carbónica

Neutralidade carbónica (“net zero”) significa atingir um balanço entre o carbono emitido para a atmosfera (“emissões positivas”) e o carbono absorvido pelos sumidouros de carbono (“emissões negativas”). Na verdade, o uso do termo neutralidade carbónica ou “emissões líquidas zero” foi bastante estratégico e uma vitória para a indústria fóssil, de forma a desviar o foco do corte de emissões reais para truques contabilísticos, entre emissões “positivas” e “negativas”. Assim, garantindo um crescente uso de combustíveis fósseis, associado a uma crescente quantidade de gases com efeito de estufa libertados para a atmosfera.

Os governos e as empresas quando falam de emissões líquidas estão a pensar no uso de tecnologias, como geo-engenharia e captura e armazenamento de carbono, assim como projetos de florestação, que para além de terem impactos sociais, ambientais e éticos, não contribuem para democracia energética e não têm capacidade de dar resposta às necessidades reais de sequestro. Estas falsas soluções não cortam emissões e servem apenas como desculpa para permitir a indústria fóssil de expandir, enquanto “compensa” as suas emissões através de emissões negativas.

O uso do termo neutralidade carbónica tem assim servido como uma perigosa armadilha de “greenwahsing”, que nos têm afastado dos objetivos e necessidades reais. Travar a crise climática implica uma redução drástica das emissões de gases com efeito de estufa a nível global – emissões zero e não “net zero”. Isto significa que tem de haver exatamente zero projetos novos de extração de combustíveis fósseis se quisermos manter o planeta habitável, e que uma Transição Energética Justa tem de começar imediatamente.

Empregos para o Clima

Empregos para o Clima são empregos novos, criados no setor público, na ótica de serviço público, nos setores-chave para a transição (como energia, transportes, indústria, construção, agricultura, e gestão florestal), e que têm impacto direto no corte de emissões de gases com efeito de estufa. Para além disso, a campanha de Empregos para o Clima reivindica um programa que garanta a requalificação profissional e assegure prioridade ao emprego para as trabalhadoras e os trabalhadores dos setores poluentes.

Estes são os empregos que realizam o trabalho necessário para travar a crise climática, enquanto também dando resposta às crises sociais de desemprego, subemprego e precariedade, pois serão criados com vínculos estáveis, acesso a qualificação profissional adequada.