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É necessária uma gestão coerente para a ferrovia em Portugal – Gonçalo Paulo

Para manter o aquecimento médio do planeta abaixo dos 1.5ºC é necessário que o consumo de combustíveis fosseis deixe de ser o motor da economia. Isso significa que para além de mudar o nosso sistema de produção de energia elétrica é também preciso de mudar a maneira como nos transportamos e como transportamos as nossas coisas. Portugal não é uma exceção neste processo, sendo talvez um dos casos mais evidentes da necessidade de uma transformação total da maneira como nos movemos.

Em Portugal, cerca de um quarto das emissões anuais de gases de efeito de estufa são devidas ao sector dos transportes (um terço se contarmos a aviação e navegação internacionais), sendo a maior parte destas devido aos transportes rodoviários. A redução dessas emissões não pode ser atingida substituindo todos esses meios de transporte por uma versão elétrica, por falta de recursos económicos, energéticos ou só pelo ponto de vista da extração de materiais.

Parte da solução tem que vir de um investimento massivo na ferrovia em Portugal, de maneira a criar uma verdadeira alternativa para o transporte de pessoas e mercadorias a medias e a longas distâncias, colmatando assim também a necessidade dos voos de voos como Lisboa-Porto ou Lisboa-Madria, por exemplo. Para esse investimento ser bem direcionado é preciso um plano coerente, nacional e com visão internacional, construído de maneira a beneficiar a população e o clima e não o lucro.

Em Portugal, a gestão da rede e infraestrutura ferrovia é feita pela Infraestruturas de Portugal (IP) e a divisão entre a gerência, manutenção, expansão, que estão nas mãos da IP, e operação e uso, que estão nas mãos da CP, tornam tanto o desenvolvimento como a operacionalização desse plano muito difícil. Para alem disso, a IP gere também a rede rodoviária, que até hoje sempre foi beneficiada sobre a rede ferroviária, e que torna ainda mais difícil a produção e execução de um plano que valorize a ferrovia sobre a rodovia.

O recente abatimento da linha do Norte, em dois sítios diferentes numa semana, é apenas um dos exemplos das consequências que a ingerência da IP, com graves consequências para a segurança das linhas assim como com um grande impacto na confiança que os utentes têm na ferrovia como maneira de transporte.

Ao mesmo tempo que existe um subinvestimento na rede ferroviária em Portugal, com o fecho de linhas, com falta de manutenção de outras e não criação de algumas que seriam fundamentais, houve um continuo investimento na criação de autoestradas, aumentando a dependência no transporte rodoviário, num ciclo vicioso que tornaram as pessoas e a economia completamente dependentes do transporte de carro.

As consequências dessa escolha é, que devido o atual aumento do custo das portagens, que afeta principalmente os utilizadores delas, vai também custar ao Estado, e aos contribuintes, 140 milhões de euros, que seriam muito melhor usados a tornar a maneira com que nos transportamos, mais limpa e mais barata.

A campanha Empregos para o Clima sublinha que é necessário um plano nacional holístico para reduzir as emissões dos transportes e como este plano nacional de ferrovia é carente numa estratégica nacional que consiga capturar as mudanças necessárias para reduzir as emissões associadas aos transportes num ritmo compatível com a ciência climática.

O plano nacional para a ferrovia precisa também de incluir um plano extensivo de reorganização da mobilidade urbana, com metro e elétricos em conjunção com autocarros elétricos, que permitam aos trabalhadores das grandes cidades usar transportes públicos nos seus deslocamentos para o trabalho e compras, acompanhando estas adições com políticas que promovam o uso de transportes públicos sobre o uso de transportes rodoviários individuais.

 

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