O petróleo, carvão e gás que são queimados para construir uma turbina eólica ou um autocarro eléctrico emitem CO2. Isto significa que as energias renováveis não são simplesmente livres de emissões.
A essas emissões chamamos “energia incorporada”.
Da mesma forma, os autocarros e comboios não consomem apenas a eletricidade ou petróleo necessários para o seu funcionamento. Também existem emissões associadas à extração de combustível e ao transporte deste até aos depósitos. E claro, emissões associadas à própria construção destes veículos, bem como toda a matéria prima utilizada. Finalmente, existem emissões associadas à construção de estradas e caminhos de ferro.
Qual é o impacto destas emissões incorporadas?
Algum, mas não tão grande quanto isso. Um motivo é quantidade de energia incorporada ser pequena. A bibliografia sobre este assunto foi resumida por L. D. Danny Harvey em dois excelentes volumes de Energy and the New Reality, Earthscan, London, 2010.
Harvey usa o conceito de “prazo de restituição”, que designa o tempo que um parque eólico demora a produzir a energia equivalente àquela que foi necessária para a construção e transporte das turbinas e materiais, para a construção de fábricas, e por aí fora.
Vários estudos sobre parques eólicos revelam que este prazo de restituição varia entre dois e oito meses (Harvey, 2:161-4). Uma turbina eólica tem uma vida útil de 20 a 25 anos. Assim, a energia incorporada é pequena quando comparada com o total de energia produzida.
No caso dos painéis fotovoltaicos, o prazo de restituição varia entre dois e quatro anos.
As estimativas para centrais de energia solar concentrada apontam para uma variação entre 6 meses e dois anos e meio. (Harvey, 2:38-40, utilizando a sua tabela na página 39, mas incluindo as conclusões da página 40; e Harvey 1:64-5.)
Isto significa que, no caso da energia solar, entre 10 e 20% da vida útil do projeto serve para restituir a energia utilizada na sua construção. Energia não é o mesmo que emissões. Ainda assim, os números sugerem que a redução de emissões associadas à energia solar está entre os 80 e 90%, e não nos 100%.
Menos investigadores calcularam este prazo de restituição aplicado aos transportes. No entanto, Harvey (1:251-4) apresenta uma tabela detalhada de um estudo feito por Lenzen em 1999 sobre a energia, em megajoules, utilizada por passageiro por quilómetro na Austrália. Estes dados mostram que a energia incorporada nos transportes representa um terço a metade da energia total utilizada.
Isto é verdade para autocarros e comboios, mas também para os carros. Os transportes públicos necessitam de menos combustível e menos energia incorporada por passageiro do que os carros.
Desta forma, a energia incorporada não é assim tão elevada no início da transição para um modelo económico baseado em baixas emissões. À medida que a transição ocorre, as emissões incorporadas irão também diminuir.
No início da transição, as turbinas eólicas são construídas recorrendo a energia a partir do carvão e são transportadas por veículos movidos a petróleo. No entanto, depois de 20 anos toda a energia utilizada nas fábricas virá de fontes renováveis. Para além disso, a energia renovável fornecerá a maior parte da energia necessária aos transportes. Assim, a energia incorporada que era baixa inicialmente, ao fim de 20 anos será insignificante.
No entanto, este processo tem limites. Os barcos envolvidos na instalação e manutenção de parques eólicos offshore ainda necessitarão de utilizar petróleo. Também as maiores turbinas eólicas terão provavelmente que ser transportadas para as quintas por camiões movidos a diesel.
Assim, passados 20 anos, os impactos da energia incorporada continuarão a existir, ainda que a um nível muito reduzido.
(Partes desta resposta foram adaptadas da publicação de Jonathan Neale, Transport Workers and Climate Change: Our Jobs, Our Planet, www.capitalandclass.org, 2012, Apêndice 3.)