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O isolamento na China devido ao coronavírus reduz poluição causadora de mortes e provavelmente salva a vida de dezenas de milhares de pessoas, segundo investigador

A seguinte notícia, publicada pela CNN no dia 17 de Março de 2020, destaca “a maneira como as nossas economias gerem outras ‘pandemias’ ocultas tem enormes custos de saúde escondidos, os quais se tornam visíveis durante uma pandemia”.


(CNN) As medidas drásticas aplicadas pela China durante o surto de coronavírus reduziram a poluição do ar causadora de mortes, potencialmente salvando a vida de dezenas de milhares de pessoas, afirmou um investigador da Universidade de Stanford.

Marshall Burke, professor assistente do Departamento de Ciências do Sistema Terrestre de Stanford, afirma que a melhoria da qualidade do ar pode ter salvo entre 50 000 e 75 000 pessoas de uma morte prematura.

“A redução da poluição no ar da China causada por esta perturbação nas actividades económicas provavelmente salvou vinte vezes mais vidas na China do que as que se perderam atualmente devido à infecção pelo vírus no país”, escreveu Burke no G-Feed, site administrado por um grupo de cientistas que estudam a relação entre a sociedade e o meio ambiente.

A ligação entre a poluição do ar e as mortes prematuras é já uma realidade comprovada. Uma análise ao longo de 30 anos em 652 cidades de 24 países e regiões em seis continentes constatou que o aumento da poluição do ar tem uma relação directa com o aumento de mortes a ela relacionadas: quanto mais altos os níveis de poluição, mais rápido as pessoas morrem.

Embora a China tenha feito alguns progressos no combate à poluição, ainda ocupa uma posição desfavorável nos rankings globais.

A Organização Mundial da Saúde prevê que cerca de 7 milhões de pessoas morrem todos os anos devido à exposição a partículas finas no ar poluído.

Segundo o Ministério da Ecologia e do Meio Ambiente da China, o número médio de “dias de boa qualidade no ar” aumentou 21,5% em Fevereiro, em comparação com o mesmo período do ano passado na província de Hubei, epicentro da pandemia global de coronavírus.

Imagens de satélite divulgadas pela NASA e pela Agência Espacial Europeia das principais cidades chinesas entre Janeiro e Fevereiro mostram igualmente uma redução drástica nas emissões de dióxido de nitrogénio, libertadas por veículos, fábricas e infraestruturas industriais.

Nos últimos anos, a China fez progressos significativos na limpeza do ar. Um estudo de 2019 descobriu que a poluição diminuiu significativamente em toda a China entre 2013 e 2017. Pequim deixou, nos últimos anos, de pertencer às 100 cidades mais poluídas da Ásia e os níveis globais de poluição em todas as cidades chinesas diminuíram 10% entre 2017 e 2018, de acordo com um relatório da Greenpeace e do AirVisual.

Os satélites de monitorização da poluição da NASA e da Agência Espacial Europeia (ESA) detectaram reduções significativas de dióxido de nitrogénio (NO2) na China. Evidencia-se que a mudança está, pelo menos em parte, relacionada com a desaceleração económica após o surto de coronavírus.

Burke focou-se no impacto de baixas concentrações de PM2.5, as minúsculas partículas perigosas que podem penetrar profundamente os pulmões quando inaladas e entrar depois na corrente sanguínea.

Com base em dados reais da poluição de quatro cidades na China de 2016 a 2019, o investigador calculou que a redução da poluição constitui entre 15 e 18 microgramas por metro cúbico de ar, ou µg/m3.

Para evitar sobrestimar o impacto, Burke arredondou o valor da redução para 10 µg/m3 e assumiu que apenas as pessoas que vivem em áreas urbanas beneficiariam do ar mais limpo.

Burke conseguiu também aproveitar dados já existentes que comprovam os benefícios para a saúde do ar mais limpo na China. Estes dados foram recolhidos durante os Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, quando as autoridades chinesas impuseram rígidas medidas de controlo da poluição.

Também nessa altura, a NASA verificou uma redução significativa dos níveis de poluição.

Os cientistas analisaram o impacto dessas medidas e descobriram que o número de mortes prematuras entre crianças menores de cinco anos e adultos acima de 70 anos reduziu drasticamente. A pesquisa sugeriu que a mortalidade de crianças menores de cinco anos aumentou 2,9% por mês para cada aumento de 1 µg/m3 de PM2.5 e aumentou cerca de 1,4% para pessoas acima de 70 anos.

Com base nesses cálculos, e tendo em conta uma série de limitações, Burke calculou que os dois meses de ar mais limpo resultantes das restrições devido ao coronavírus salvaram a vida de 1 400 a 4 000 crianças menores de 5 anos e de 51 700 a 73 000 adultos acima de 70 anos na China.

Afirmou que, embora o ar mais limpo possa ter salvo vidas, a perturbação mais abrangente causada pelo Covid-19 pode causar muitas mortes adicionais não directamente atribuíveis à infecção pelo vírus, por exemplo, devido à queda no bem-estar económico ou à dificuldade no acesso a serviços de saúde durante a epidemia.

“Significa isto que as pandemias são benéficas para a saúde? Não” disse. “Em vez disso, significa que a maneira como as nossas economias gerem outras ‘pandemias’ ocultas tem enormes custos de saúde escondidos, os quais se tornam visíveis durante uma pandemia”.

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